quinta-feira, 24 de abril de 2014

Charlene, Gustavo e Davi: uma EXPLOSÃO de amor!

Eu sou uma Doula que tem o costume de deixar uma bola de pilates com as mulheres grávidas que me procuram para serví-las nos seus partos quando elas estão entre 37 e 38 semanas de gestação, para que elas possam ir se familiarizando com a bola e com alguns exercícios que possam ajudar no trabalho de parto.

Mas com Charlene, parece que houve uma coisa de 'sexto sentido' (apesar de eu não acreditar nisso, acredito mais em conexão espiritual inexplicável entre Mulher e Doula), e resolvi, excepcionalmente, deixar a bola com ela quando ela completou 35 semanas e falar sobre os exercícios. E, parece-me, não foi à toa. Foi uma espécie de 'sopro da natureza' que me disse para fazer isso. Porque, com 37 semanas, exatamente duas semanas após a entrega da bola, ela entra em trabalho de parto, ou seja, na época em que, normalmente, eu estou fazendo o último encontro pré-parto, entrego a bola e dou dicas de exercícios de 'remexer o quadril' na bola, de respiração e de consciência perineal.

Então, por volta de meia-noite do dia 13 para o dia 14, ela me liga dizendo que tava saindo um pouco de líquido. Mas que não era um 'jorro', como ela pensava que acontecia quando a bolsa rompia. Ficou uma 'pocinha' só, no chão. Orientei-a a observar a cor do líquido e cheirar. Líquido límpido e sem odores fortes. Perguntei se ela percebia alguma contração começando, ela achava que só uma 'colicazinha de nada', nada demais. Orientei-a, então, a continuar observando este líquido e os movimentos de Davi dentro dela. E que meu telefone estava do lado, caso a coisa começasse a pegar e ela percebesse mais se havia ou não contrações.

Neste meio tempo, eu - que ainda não estava dormindo - resolvi arrumar tudo de minhas crias para o dia seguinte, inclusive a bolsa para que eles ficassem no integral da escola no dia seguinte. No meio dessa arrumação, meia hora depois, ela liga de volta, dizendo que 'achava' que tinha tido uma contração sim. Terminei de arrumar as coisas das crianças, falei com o maridão que estava indo, e que ele que levaria nossos pirrainhas para a escola, de bike,e não eu, como de costume.

Ao chegar na casa dela, por volta de 1h da manhã do dia 14, ela encontrava-se muito tranquila. Falou que estava super cansada, porque no mesmo dia não havia parado: foi o dia do chá de fraldas de Davi. Monitoramos a dinâmica das contrações, tudo muito leve, sem dor, sem desconforto. Uma dinâmica ainda longe, aparentemente, de se estabelecer como trabalho de parto ativo propriamente dito. Ficamos nessa de 1h às 3h da manhã monitorando as contrações. Como não havia nenhuma dinâmica real de trabalho de parto ativo ainda (apenas pródromos), e nenhum outro sinal que indicasse que era necessário ir ao hospital, sugeri que dormíssemos um pouco. Gustavo, o pai de Davi, o tempo todo junto, apoiando. Eu dormi. Ele dormiu. Ela tentou, mas não conseguiu.

Às 6 me acorda dizendo que as 'colicazinhas' estavam um pouco mais fortes. Levantei, fui tomar um banho. Ela sempre muito tranquila, e eu dizendo que não havia razão para se agoniar, que estava tudo certo.

Das 6h às 8h o negócio engrena. Mas engrena MESMO. Com uma velocidade incrível. Gustavo entra em ação, amparando-a, fazendo carinho, um quase-doulo, atencioso, tranquilo. Agora sim, ela estava em trabalho de parto ativo. Uma dor de cabeça trouxe o alerta de que seria bom ir ao hospital, por causa de um pico de pressão alta que ela teve na última semana de gestação.

Pela manhã, em plena contração, recebendo apoio de Gustavo e - pasmem! - falando ao telefone. =)

Partimos rumo ao IMIP. A grande surpresa: na triagem, ela já estava no período expulsivo. Em casa, os sinais eram de que ela apenas estava iniciando a parte ativa do processo de parto. Como fui levando as bolsas e segui por um caminho diferente, ao chegar no Setor Aconchego do IMIP, ela já estava na banqueta, que foi posta em cima da cama, e Davi já estava coroando. Isso era por volta das 10h. Vejam bem: ela me acordou às SEIS dizendo que as 'contracinhas' estavam mais fortes, e por volta das DEZ ela estava parindo. Coisa linda de se ver é uma mulher bem preparada para o trabalho de parto como estava Charlene.

E ela pariu. Pariu PARINDO. Um parto literalmente explosivo. Inicialmente, pensávamos que o expulsivo seria suave, afinal, ele começou assim. Mas depois que a metade da cabeça do Rei Davi saiu, bem lentamente, o resto saiu em formato de explosão. CATABLUFT!!!!! Davi chegou chegando. Um dos partos mais lindos que eu já presenciei. Contração poderosíssima, vinda desta mulher poderosíssima.

E ela dizia "Eu pensava que era muito mais dor!", e ela - como religiosa e crente em Deus que é - gritava "Glória a Deus!!!", e falava bem alto, e bem emocionada, "Eu realizei um SONHO!", em êxtase pleno. Nasceu Davi e nasceu uma nova mulher. E o pai com cara de babão também nasceu, ao entender a força da mulher que é sua companheira. E a Doula também sempre renasce de esperança, sempre renasce de emoção, sempre com os olhos sempre cheios de lágrimas, por mais um lindo parto totalmente natural e humanizado na nossa rede pública de saúde.

SEM EPISIOTOMIA.
SEM OCITOCINA SINTÉTICA.
SEM MANOBRA DE KRISTELLER.
APENAS UM ÚNICO TOQUE (na triagem).
SEM NITRATO DE PRATA.
SEM ASPIRAÇÃO DO BEBÊ.
SEM ANALGESIA.

Um parto TOTALMENTE dentro do que recomenda a Organização Mundial de Saúde. Apenas isso.


A família em êxtase pela chegada explosiva do pequeno Davi

E que coisa linda este casal peitando de frente o sistema neotanal intervencionista, que queria aspirar sem necessidade seu Rei Davi, que queria colocar sem necessidade o colírio cáustico de nitrato de prata nos olhinhos do bebê. Recusaram com educação e rindo, sambaram na cara da neonatologia intervencionista, que ainda é um problema (que já está sendo debatido lá dentro) no nosso hospital público de referência em parto humanizado. Acredito que esta recusa de procedimentos sofridos para o bebê marcaram uma nova era na neotatologia do setor de parto humanizado no IMIP, o PPP.

Este pai não desgrudou de seu filho nos procedimentos de rotina neonatais.
E, como essa mesma expressão, ele dizia 'NAO...' a todos os procedimentos desnecessários propostos pela neonatologia. \o/


Esta é Charlene.
Não a Charlene antiga, mas a que renasceu ao viver a experiência do parto
de forma muito mais positivo do que ela mesma imaginava. 

Apenas me resta agradecer por confiarem no meu auxílio, e por me deixarem participar deste momento tão íntimo e único da vida dessas pessoas tão especiais. E agradecer sempre e eternamente à querida obstetra Leila Katz, que é a responsável por toda essa transformação que, eu tenho certeza, está apenas começando.

Só fiquei triste por um motivo: minha bolsa da Doula ficou INTACTA. Não deu tempo de usar NADA. Que bom, né? =P


Comadres agora

9 comentários:

  1. Que lindo!!!! Parabéns
    Mulher guerreira
    Bjao

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    1. Todas somos, Marciana. Basta buscar bem dentro da gente a guerreira que existe em todas nós, mulheres.

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  2. Quanto amor, Paty! Que lindooooo! Eu também quero renascer assim... me ajuda?

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  3. Olá Paty, boa noite!
    Sou de Caruaru, estou gestante na 27º semana. Gostaria de falar com você.
    Você pode me passar o seu email?
    Grata.

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  4. Que coisa mais linda, meu sonho é ter um parto assim estou de 32 semanas e doida para ter PN mais esta dificil achar alguem que parteje sem ser cesaria. Gostaria do email da doula para me informar mais.

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