sexta-feira, 2 de maio de 2014

Ishtar-Recife dia 03 de maio: RECOMENDAÇÕES DA OMS para a assistência ao parto

Próximo encontro do Ishtar - Recife no sábado sobre as recomendações da OMS na assistência ao parto. Gostaria de convidar todas as pessoas, inclusive OBSTETRAS do Recife e do Brasil inteiro para comparecerem, porque eu acho que a maioria não conhece estas recomendações que, incrivelmente, são baseadas em evidências científicas sólidas. 

Desculpaê.



Tod@s irão perceber que o que nós queremos é apenas que estas recomendações sejam cumpridas. Estamos pedindo muito? Respeito no parto é respeito à autonomia feminina, é respeito à saúde da mulher e da criança.

Nos vemos lá!!!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Charlene, Gustavo e Davi: uma EXPLOSÃO de amor!

Eu sou uma Doula que tem o costume de deixar uma bola de pilates com as mulheres grávidas que me procuram para serví-las nos seus partos quando elas estão entre 37 e 38 semanas de gestação, para que elas possam ir se familiarizando com a bola e com alguns exercícios que possam ajudar no trabalho de parto.

Mas com Charlene, parece que houve uma coisa de 'sexto sentido' (apesar de eu não acreditar nisso, acredito mais em conexão espiritual inexplicável entre Mulher e Doula), e resolvi, excepcionalmente, deixar a bola com ela quando ela completou 35 semanas e falar sobre os exercícios. E, parece-me, não foi à toa. Foi uma espécie de 'sopro da natureza' que me disse para fazer isso. Porque, com 37 semanas, exatamente duas semanas após a entrega da bola, ela entra em trabalho de parto, ou seja, na época em que, normalmente, eu estou fazendo o último encontro pré-parto, entrego a bola e dou dicas de exercícios de 'remexer o quadril' na bola, de respiração e de consciência perineal.

Então, por volta de meia-noite do dia 13 para o dia 14, ela me liga dizendo que tava saindo um pouco de líquido. Mas que não era um 'jorro', como ela pensava que acontecia quando a bolsa rompia. Ficou uma 'pocinha' só, no chão. Orientei-a a observar a cor do líquido e cheirar. Líquido límpido e sem odores fortes. Perguntei se ela percebia alguma contração começando, ela achava que só uma 'colicazinha de nada', nada demais. Orientei-a, então, a continuar observando este líquido e os movimentos de Davi dentro dela. E que meu telefone estava do lado, caso a coisa começasse a pegar e ela percebesse mais se havia ou não contrações.

Neste meio tempo, eu - que ainda não estava dormindo - resolvi arrumar tudo de minhas crias para o dia seguinte, inclusive a bolsa para que eles ficassem no integral da escola no dia seguinte. No meio dessa arrumação, meia hora depois, ela liga de volta, dizendo que 'achava' que tinha tido uma contração sim. Terminei de arrumar as coisas das crianças, falei com o maridão que estava indo, e que ele que levaria nossos pirrainhas para a escola, de bike,e não eu, como de costume.

Ao chegar na casa dela, por volta de 1h da manhã do dia 14, ela encontrava-se muito tranquila. Falou que estava super cansada, porque no mesmo dia não havia parado: foi o dia do chá de fraldas de Davi. Monitoramos a dinâmica das contrações, tudo muito leve, sem dor, sem desconforto. Uma dinâmica ainda longe, aparentemente, de se estabelecer como trabalho de parto ativo propriamente dito. Ficamos nessa de 1h às 3h da manhã monitorando as contrações. Como não havia nenhuma dinâmica real de trabalho de parto ativo ainda (apenas pródromos), e nenhum outro sinal que indicasse que era necessário ir ao hospital, sugeri que dormíssemos um pouco. Gustavo, o pai de Davi, o tempo todo junto, apoiando. Eu dormi. Ele dormiu. Ela tentou, mas não conseguiu.

Às 6 me acorda dizendo que as 'colicazinhas' estavam um pouco mais fortes. Levantei, fui tomar um banho. Ela sempre muito tranquila, e eu dizendo que não havia razão para se agoniar, que estava tudo certo.

Das 6h às 8h o negócio engrena. Mas engrena MESMO. Com uma velocidade incrível. Gustavo entra em ação, amparando-a, fazendo carinho, um quase-doulo, atencioso, tranquilo. Agora sim, ela estava em trabalho de parto ativo. Uma dor de cabeça trouxe o alerta de que seria bom ir ao hospital, por causa de um pico de pressão alta que ela teve na última semana de gestação.

Pela manhã, em plena contração, recebendo apoio de Gustavo e - pasmem! - falando ao telefone. =)

Partimos rumo ao IMIP. A grande surpresa: na triagem, ela já estava no período expulsivo. Em casa, os sinais eram de que ela apenas estava iniciando a parte ativa do processo de parto. Como fui levando as bolsas e segui por um caminho diferente, ao chegar no Setor Aconchego do IMIP, ela já estava na banqueta, que foi posta em cima da cama, e Davi já estava coroando. Isso era por volta das 10h. Vejam bem: ela me acordou às SEIS dizendo que as 'contracinhas' estavam mais fortes, e por volta das DEZ ela estava parindo. Coisa linda de se ver é uma mulher bem preparada para o trabalho de parto como estava Charlene.

E ela pariu. Pariu PARINDO. Um parto literalmente explosivo. Inicialmente, pensávamos que o expulsivo seria suave, afinal, ele começou assim. Mas depois que a metade da cabeça do Rei Davi saiu, bem lentamente, o resto saiu em formato de explosão. CATABLUFT!!!!! Davi chegou chegando. Um dos partos mais lindos que eu já presenciei. Contração poderosíssima, vinda desta mulher poderosíssima.

E ela dizia "Eu pensava que era muito mais dor!", e ela - como religiosa e crente em Deus que é - gritava "Glória a Deus!!!", e falava bem alto, e bem emocionada, "Eu realizei um SONHO!", em êxtase pleno. Nasceu Davi e nasceu uma nova mulher. E o pai com cara de babão também nasceu, ao entender a força da mulher que é sua companheira. E a Doula também sempre renasce de esperança, sempre renasce de emoção, sempre com os olhos sempre cheios de lágrimas, por mais um lindo parto totalmente natural e humanizado na nossa rede pública de saúde.

SEM EPISIOTOMIA.
SEM OCITOCINA SINTÉTICA.
SEM MANOBRA DE KRISTELLER.
APENAS UM ÚNICO TOQUE (na triagem).
SEM NITRATO DE PRATA.
SEM ASPIRAÇÃO DO BEBÊ.
SEM ANALGESIA.

Um parto TOTALMENTE dentro do que recomenda a Organização Mundial de Saúde. Apenas isso.


A família em êxtase pela chegada explosiva do pequeno Davi

E que coisa linda este casal peitando de frente o sistema neotanal intervencionista, que queria aspirar sem necessidade seu Rei Davi, que queria colocar sem necessidade o colírio cáustico de nitrato de prata nos olhinhos do bebê. Recusaram com educação e rindo, sambaram na cara da neonatologia intervencionista, que ainda é um problema (que já está sendo debatido lá dentro) no nosso hospital público de referência em parto humanizado. Acredito que esta recusa de procedimentos sofridos para o bebê marcaram uma nova era na neotatologia do setor de parto humanizado no IMIP, o PPP.

Este pai não desgrudou de seu filho nos procedimentos de rotina neonatais.
E, como essa mesma expressão, ele dizia 'NAO...' a todos os procedimentos desnecessários propostos pela neonatologia. \o/


Esta é Charlene.
Não a Charlene antiga, mas a que renasceu ao viver a experiência do parto
de forma muito mais positivo do que ela mesma imaginava. 

Apenas me resta agradecer por confiarem no meu auxílio, e por me deixarem participar deste momento tão íntimo e único da vida dessas pessoas tão especiais. E agradecer sempre e eternamente à querida obstetra Leila Katz, que é a responsável por toda essa transformação que, eu tenho certeza, está apenas começando.

Só fiquei triste por um motivo: minha bolsa da Doula ficou INTACTA. Não deu tempo de usar NADA. Que bom, né? =P


Comadres agora

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Porque mexer o esqueleto grávido é fundamental.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Próximo sábado: Encontro do Ishtar - Recife

Surpresas, emoções e muitas vibrações positivas, depois de dias tão difíceis para xs ativistas pela Humanização do Parto, com o caso de Adelir. Vamos nos encher de esperança de novo!


Bora? Bora.
Quando? Sábado (19 de abril)
Que horas? Das 10h às 13h
Onde? No Sádhana Yoga (Rua das Graças, 178 - Recife).

Tenho certeza de que você(s) não vai/vão se arrepender.
Especialmente as mulheres que não devem mais viajar na semana santa por estarem na reta final da gestação.

Convite oficial do encontro

Yo soy la que soy (Eu sou a que sou)
Letra: Rosa Zaragoza.
Música: Ralph Zurmühle

Eu, que estou feita de luz,
sou parte disso que és Tu.
Tudo está em meu interior
para que escolha o melhor.
Terno beijo de minha alma
que sorri para mim
se eu aceito toda a minha dor
e minha coragem.
Eu sou de amor e sou a que
esperou, sou a que treme e
a que se entregará.
Esgotada, eu sou a que renascerá.
Amo todo meu passado com tudo o que
passou. Amo o que tenho agora, amo
tudo o que sou.
Tenho o que preciso para me sentir
feliz, mesmo que às vezes me esqueça,
tudo está em mim.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

DIREITO DAS MÃES

Nota divulgada na rede social da presidenta Dilma Rouseff a respeito do desrespeito à autonomia da mulher explicitada no caso Adelir - Torres-RS



DIREITO DAS MÃES

O estado pode interferir na escolha do parto pela mulher? A resposta a esta questão é bem diferente para a Justiça do Rio Grande do Sul e para o Governo Federal.

Adelir Carmem Lemos de Goes, moradora de Torres (RS), foi obrigada pela justiça gaúcha a submeter-se a uma cesariana pelo argumento da obstetra de que a criança estava sentada e, além de outros motivos, corria risco de morte.

Mesmo sem nenhum exame comprovando a situação, a mãe foi levada de casa pela polícia e obrigada a realizar a cirurgia.

Em solidariedade à mulher, as Secretarias de Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres e o Ministério da Saúde publicaram nota apontado uma série de questões que envolvem os Direitos Humanos na Saúde.

Segundo os órgãos, a mulher tem o direito de escolher como será o parto de seu filho, a posição do parto, e quem deve acompanhá-la nesse momento.

"Isso é Lei no Brasil. A não observância dessas questões – e outras – se configura em flagrante violação de direitos", ressaltou a nota do governo federal.

A atenção obstétrica humanizada e segura é, inclusive, foco de ação do governo por meio da Rede Cegonha.

Por ela, a atenção à mulher é qualificada e foi possível assisti-las em questões como a articulação do planejamento reprodutivo, o cuidado à gravidez, parto e puerpério, e a atenção à criança, do nascimento até os dois anos.

Saiba mais em http://bit.ly/1eEFGcI e conheça também a história de Adelir emhttp://bit.ly/1gwbd11



Vigília em Defesa da Autonomia da Mulher,
motivada pelo caso Adelir.
Foto: Lucas Melo

terça-feira, 8 de abril de 2014

ATO NACIONAL DE REPÚDIO AO CASO TORRES-RS - PROGRAMAÇÃO RECIFE



No dia 11.04.14 (sexta-feira) nos manifestaremos contra o abuso do poder médico, que acionou o poder judiciário para cometer uma das mais explícitas violências obstétricas já vistas neste país: uma mulher grávida foi levada através de mandado judicial por mais de 10 policiais para ser submetida a uma cesárea sem o seu consentimento.

A bebê havia sido avaliada previamente e estava tudo bem com ela e com a mãe. Vários erros grotescos de diagnóstico clínico e de uso da lei para violentar e coagir uma mulher grávida, ameaçando prender o seu marido, caso ela não seguisse na ambulância que apareceu junto com a polícia na madrugada do fatídico dia 01 de abril de 2014. Uma história que parece mentira de primeiro de abril, mas não é.

Divulguem, viralizem esta imagem! Vamos mostrar que o NOSSO CORPO NOS PERTENCE!

Links para referência:

http://somostodxsadelir.wordpress.com/

http://www.bolsademulher.com/saude-mulher/medicos-e-advogados-opinam-sobre-caso-de-mulher-obrigada-a-fazer-cesarea-violencia-ou-risco-a-vida/

http://patysampaiodoula.blogspot.com.br/2014/04/do-blog-cientista-que-virou-mae.html

http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2014/04/em-trabalho-de-parto-levada-por.htm


Posição da FEBRASGO sobre o caso

domingo, 6 de abril de 2014

Debate na JC News sobre Violência Obstétrica

Super bem acompanhada das companheiras de ativismo, Leila Katz (Obstetra e coordenadora do Espaço Aconchego e da UTI obstétrica do IMIP) e Ludmila Cavalcanti (Doula, enfermeira e coordenadora do Grupo Mãe Nutriz), participei hoje de uma debate na Rádio JC News sobre Violência Obstétrica, tendo em vista a repercussão no Brasil e do mundo do caso Adelir, de Torres-RS.

#SomosTodasAdelir

Ouça o debate aqui:
http://radiojcnews.ne10.uol.com.br/2014/04/07/maternidade-e-as-preocupacoes-com-o-nascimento-direito-ao-parto-normal-e-agressoes-osbtetricias/

Maternidade e as preocupações com o nascimento: parto normal e violência obstétrica

parto
Foto: Reprodução / Internet
O direito ao parto normal foi o debate, deste domingo (6), na JC News com Ismaela Silva. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa aceitável de cesarianas é de 15%. No entanto, no Brasil a praticada é de 50%, assim como no Recife. Em algumas unidades hospitalares particulares, esse índice chega a 90%. Na maioria dos casos, as cirurgias cesáreas ocorrem sem a indicação necessária que seria de risco de vida para a gestante ou para o bebê, e são feitas simplesmente por indução dos médicos ainda no pré-natal.
A violência obstétrica e o estímulo à amamentação também foram pontos discutidos no debate que recebeu Leila Katz, médica obstetra e coordenadora do Espaço Aconchego, do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) obstétrica do hospital; Ludmila Cavalcante, enfermeira, doula e aconselhadora em amamentação do grupo Mãe Nutriz, e Patrícia Sampaio, também doula, coordenadora do grupo Ishtar de apoio ao parto humanizado.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

[do Blog Cientista que virou Mãe] Denúncia do caso Adelir (Torres-RS) já está na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Presidência da República

Impossível não compartilhar esta postagem do Blog "Cientista que virou mãe" na íntegra.

Por Lígia Moreiras Sena

Denúncia do caso Adelir (Torres-RS) já está na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Presidência da República

Nota pós-publicação.
Após nossa publicação, Adelir ( obrigada a passar por uma cesariana sem seu consentimento) divulgou o resultado da ultrassonografia obstétrica com perfil biofísico fetal que fez na tarde em que esteve no hospital.
Ele foi incorporado ao final desta postagem. 
Como pode ser visto, o exame atestou 40 semanas de gestação e não com 42, como a obstetra havia informado. Ou seja, o pós-datismo alegado não procede. Todos os demais argumentos utilizados - apresentação pélvica e cesáreas anteriores - são rebatidos com o auxílio de recomendações de organizações internacionais reconhecidas e fazem parte da denúncia formalizada, que você pode ver abaixo.


A  ARTEMIS - ACELERADORA SOCIAL PELA AUTONOMIA FEMININA informa que a denúncia referente ao caso de Adelir Carmen Lemos de Góes, retirada de sua casa na madrugada do dia 01/04/2014, em trabalho de parto, por policiais armados, e obrigada a fazer uma cirurgia cesariana sem seu consentimento já se encontra junto à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Presidência da República, que já providenciou o devido encaminhamento para providências.

Para conhecimento, segue a denúncia formalizada.



















quinta-feira, 3 de abril de 2014

Texto de Leila Katz, obstetra, sobre o caso Adelir - Torres - RS

Leila Katz direciona o texto a vários/as obstetras que teriam conduta similar à de Torres. Ou aos/às que, pelo menos estão concordando com esta barbárie que vai de encontro aos direitos reprodutivos de uma mulher.

--
"Sou obstetra como você. Sou formada a 18 anos, tenho além da residência médica, mestrado e doutorado. Sou coordenadora de uma UTI obstétrica e do setor de parto humanizado em um hospital de referência. Sou preceptora da residência médica e faço assistência também. Não conto os partos que assisto, mas posso te garantir que foram muitos. Além disso sou pesquisadora e professora da pós-graduação e entre minhas linhas de pesquisa estão assistência ao parto e gestação de alto risco.

Estudei bastante sobre partos normal após cesárea, inclusive sou frequentemente chamada em congressos para falar sobre esse assunto e posso te garantir: o parto normal após duas cesáreas é SIM uma opção segura, tanto que o próprio ACOG, que como você deve saber é um órgão muito conservador, considera a prova de trabalho de parto como opção segura para mulheres esclarecidas. No último documento do ACOG se fala inclusive dos riscos das cesarianas de repetição. Posso inclusive te mandar esse e outros documentos para você se atualizar.

E assim, EU PARI APÓS DUAS CESÁREAS.


Leila e parte de sua família, no pós-parto imediato de seu VBA2C
Não, meu útero não rompeu como você disse que ocorreria. Eu tomei a decisão consciente de riscos e benefícios de minha escolha e fui respeitada pelas minhas colegas e pude viver essa maravilhosa experiência.

Então, vamos ponto a ponto...

A presença de qualquer cicatriz uterina aumenta o risco de rotura.

Esse aumento de risco é pequeno e em geral abaixo de 0,5%.

Existe na verdade uma controvérsia quando há mais de uma cesárea, enquanto que alguns estudos sugerem que existe aumento de risco em relação a uma cesárea apenas, outros não mostram esse aumento de risco. De toda forma, o risco global naqueles que sugerem o aumento de risco é para algo em torno de 1-1,5%.


Ou seja, nos dois casos o maior risco é de que não haverá rotura.


Outro ponto que precisa ser analisado são os outros riscos associados a repetição das cesáreas. Pois existe aumento de risco de lesão de órgãos, como bexiga e intestino, hemorragia, histerectomia e infecção nas mulheres que repetem a cesárea em relação aquelas que vão para um parto normal.

Em relação ao que você falou do respaldo jurídico é o seguinte: não existe nada sem risco. O que te da respaldo é o adequado esclarecimento da pessoa e explanação sobre os riscos. Se a pessoa escolhe esses riscos conscientemente, e assina concordando com isso, esse é seu respaldo.

E veja, amiga, tantas coisas que nos médicos obstetras fazemos aumentam chances de desfechos desfavoráveis e que são feitos sem nenhuma preocupação. Vamos a alguns exemplos: estudos mostram que o uso rotineiro de analgesia pode levar a Piores resultados perinatais mas rotineiramente os obstetras usam isso sem nenhuma preocupação desse aumento de risco.


Fazer uma cesárea aumenta em mais de dez vezes o risco de trombose, e apesar disso vejo cesáreas serem feitas pelos obstetras sem nem se preocupar com o aumento desse risco. O uso de ocitocina e a própria cesárea aumenta o risco de hemorragia puerperal ( evento por sinal bem mais comum que uma rotura uterina e que também mata) e muitos obstetras abusam dos dois procedimentos em parturientes que não precisam deles sem absolutamente se preocupar com o aumento do risco.


Então aqui na verdade o que está valendo para as pessoas que falam de se proteger de processos não é na verdade o aumento de risco, é o fato do medico não concordar e obrigar a pacientes fazer o procedimento. Num processo você se protege com as evidências e com um termo de consentimento livre e esclarecido assinado.

Claro que a pessoa precisa se sentir segura para realizar a assistência. Todos tem limites que devem ser respeitados. Inclusive o médico tem o direito a não prestar uma assistência com a qual não concorda. Mas aí a atitude correta dessa pessoa que não se sentia segura para atender essa gestante seria referenciar a moça para alguém que o fizesse e não denuncia-la covardemente.

Nos não podemos obrigar um paciente a realizar um procedimento que ele não deseje. Fere a autonomia do indivíduo. Já passei por alguns casos de pacientes gravemente doentes que se recusaram a se submeter aos tratamentos propostos e que me deixaram abalada, pela preocupação com a saúde delas. Entenda elas estavam gravemente doentes internadas inclusive em UTI. Mas como estavam conscientes e orientadas, compreendiam os riscos e assinaram juntos com o marido um documento dizendo que apesar de todo esclarecimento e conhecimento dos riscos, se recusavam a realizar o tratamento respeitamos a decisão delas.

E por fim, concordo com a relação horizontal e honesta, a qual por sinal, foi negada a essa moça não é mesmo?"




--

Leila Katz concluiu Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1996, fez residência em Ginecologia e Obstetrícia no Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), com término em 1999. Tem mestrado em Saúde Materno-Infantil pelo IMIP (2002) e doutorado em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2007). Atualmente é coordenadora da UTI obstétrica do IMIP e professora da pós-graduação (mestrado e doutorado) em Saúde Materno-Infantil do IMIP.

Carta da Rede Feminista sobre o caso Adelir

CARTA

"Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Regional RS

Marcha Mundial de Mulheres

Campanha Ponto Final na Violência Contra Mulheres e Meninas

Cesariana forçada – uma violação aos direitos reprodutivos das mulheres




O movimento de mulheres do Rio Grande do Sul, por meio de suas entidades, foi tomado de estarrecimento diante da denúncia sobre a realização de uma cesárea forçada no município de Torres esta semana, fato esse confirmado por notícia veiculada na Folha de São Paulo de hoje (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1434570-justica-do-rs-manda-gravida-fazer-cesariana-contra-sua-vontade.shtml). 


Segundo se sabe, a gestante ACLG, de 29 anos, após avaliação do seu estado gestacional na unidade hospitalar do município, decidiu aguardar em casa o momento de realizar seu parto. No entanto, inconformada com a decisão, e alegando que o feto estava em posição sentada, uma médica solicitou liminar à justiça para realizar o procedimento, que foi obtida. Levada por policiais militares ao Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, a gestante foi submetida à cirurgia para retirada do bebê, uma menina, sem o seu consentimento. Desta forma, os agentes envolvidos, contrariando todos os preceitos de humanização dos serviços de saúde, bem como os princípios do direito, entre os quais destacamos a razoabilidade, a preservação da dignidade humana e a intimidade, impingiram aquela mulher medida excessiva que afeta seus direitos fundamentais, sem qualquer amparo técnico assistencial ou mesmo jurídico.





Em função da gravidade desses fatos, solicitamos à Prefeitura Municipal de Torres, onde a usuária do SUS foi atendida e às autoridades sanitárias, a tomada de providência para sua completa elucidação, pois é flagrante o desrespeito ao direito da mulher de optar pela via de parto para dar à luz. Para nós, uma violação aos direitos reprodutivos, que consistem na possibilidade das pessoas poderem escolher, mediante a informação, como, quando, onde e em que condições ter ou não ter filhos. Estes direitos são amplamente reconhecidos pelas Nações Unidas e firmados pelo Governo Brasileiro em documentos nacionais. Por outro lado, o argumento utilizado pela justiça para a liminar se ancora no direito de primazia do nascituro, esse sim não reconhecido pela legislação brasileira.

Sabemos que no Brasil 55% dos partos realizam-se através de cesarianas, contrariando estatísticas internacionais e a Organização Mundial da Saúde, que recomenda que esse percentual não passe de 15%. Na rede privada estes números chegam a 84% dos partos (2013), segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Isso se deve, segundo importantes estudos à “cultura da realização das cirurgias cesarianas”, a grande maioria desnecessária, não raro induzida pelos próprios médicos, e às oportunidades de realizar outros procedimentos cirúrgicos na mesma ocasião. 





A pesquisa “Cesarianas desnecessárias: Causas, consequências e estratégias para sua redução[1]” realizada com usuárias do SUS e de planos privados de saúde detectou, entretanto, que 70% das mulheres preferem o parto normal. Porém, baseadas no medo da dor do parto, da realização conjunta de laqueadura e o desconhecimento de métodos para aliviar a dor e facilitar o parto, acabam aceitando propostas de abreviar a gestação, alimentando o entendimento de gestação e parto como questões de doença e não de não como evento de saúde da vida das mulheres. 





As consequências das cesarianas desnecessárias são as infecções decorrentes dos procedimentos inadequados, cicatrizes no útero e no corpo, maior tempo para recuperação, perda de autonomia e de participação no momento do nascimento do bebê e influem grandemente nas causas de mortalidade materna no Brasil. Este um grave problema de saúde pública que o país não tem conseguido vencer e vem sendo cobrado em ações como o Caso Alyne no Comitê Cedaw/ONU.





Vivemos tempos de avanço do conservadorismo, do controle da vida das mulheres. Nossa sexualidade tem sido cada vez mais mercantilizada. Nosso corpo facilmente transformado mercadoria para fomentar a sociedade capitalista patriarcal . A indústria da cesariana é uma exemplo significativo desse processo. Exigimos que o Estado adote condutas de responsabilização desta violação de direitos promovidas pelos seus agentes. Exigimos que a autonomia e a dignidade das mulheres, na qualidade de direitos fundamentais, conquistados a duras penas, esteja acima dos interesses e entendimentos individuais, que busquem de qualquer forma, submeter e apropriar-se das escolhas, dos corpos e das vidas das mulheres.





Reafirmamos: os direitos das mulheres são direitos humanos. A saúde reprodutiva é parte essencial dos direitos reprodutivos, devendo ser vivida na plenitude. Uma cesária forçada é uma violência obstétrica, contrariando todos os preceitos do parto humanizado. A violência contra as mulheres é uma violação aos direitos humanos.





Porto Alegre, 3 de abril de 2014

Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Regional RS

Marcha Mundial de Mulheres

Campanha Ponto Final na Violência Contra Mulheres e Meninas"

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Próximo encontro do Ishtar - Recife: INDICAÇÕES DA CESARIANA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Cesaristas, tremei. As mulheres vão saber o que é verdade e o que é mentira com relação às suas indicações esdrúxulas para operá-las sem necessidade. E são essas mulheres que vão fazer a revolução do parto. Aguardem e verão. Ou se adequem a esta demanda.

A grande arma delas a gente ajuda a fornecer: INFORMAÇÕES DE QUALIDADE.
Próximo encontro marcado! Falaremos sobre a CESARIANA: SUA INDICAÇÕES REAIS BASEADAS EM EVIDÊNCIAS (e, obviamente, entraremos nas falsas indicações que são usadas para convencerem as mulheres de que ela seria a melhor opção).



Divulguem!

Dia 05.04.14
Local: Sádhana Yoga - Rua das Graças, 178 - Graças
Horário: das 10h às 13h

Esperando vocês lá!

segunda-feira, 31 de março de 2014

Semana HUMANIZA SUS - Desvelando a Violência Obstétrica (mesa redonda)

Para combater uma opressão, é preciso visibilizá-la.
Abrindo a Semana HUMANIZA SUS, é isso que eu e Júlia Morim tentaremos fazer ao facilitar o debate sobre a Violência Obstétrica, que ainda é uma violência contra a mulher invisibilizada em função da força do corporativismo médico, dentre outros fatores culturais pautados em normas patriarcais.
Afinal, por que, no mundo, só as brasileiras não conseguem ter acesso ao parto normal, humanizado, preferencialmente???!!! E por que tantas se queixam do parto (ou não-parto) ter sido uma experiência horrível para elas?

Nosso corpo nos pertente. Nosso parto, consequentemente, segue a mesma linha de raciocínio. O parto é da mulher!
Esta pauta está dentro dos direitos reprodutivos da mulher.
Todxs convidadxs!
Inscrições gratuitas e limitadas através do site. Acesse: www.grupocefapp.com.br/evento.php?id=43
Segue abaixo a programação completa da Semana Humaniza SUS: